Exportadores brasileiros veem motivação política na medida dos EUA e temem prejuízos em cadeia para carne bovina, café, suco de laranja e aço, destaca o especialista em mercado financeiro, Fabiano Tavares_
As mais recentes pesquisas de opinião apontam um cenário de queda na popularidade do governo federal. Escândalos envolvendo órgãos como o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), os Correios e o caso do “Pix secreto” têm contribuído para o desgaste da imagem do Executivo, refletindo diretamente na percepção do mercado quanto à possibilidade de reeleição do presidente Lula em 2026.
O cenário se agravou após o aparente abandono do projeto de fortalecimento do BRICS por parte de lideranças estratégicas, como China, Rússia e Irã. O isolamento político crescente levou o presidente Lula a subir o tom, com discursos voltados à criação de uma moeda paralela ao dólar — tema sensível que gerou reação imediata dos Estados Unidos.
Em um movimento sem precedentes na história recente, o presidente americano encaminhou diretamente ao governo brasileiro uma carta com ameaças de taxação de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados aos EUA. O comunicado também trouxe um apelo velado à manutenção da democracia, em recado direcionado ao Supremo Tribunal Federal, apontado como um dos principais aliados do Planalto.
O impacto no mercado foi imediato, e as cotações de produtos brasileiros como aço, café, suco de laranja e carne bovina recuaram drasticamente. Setores estratégicos da economia começaram a registrar prejuízos expressivos, enquanto o governo brasileiro buscou criar uma nova narrativa, transferindo a responsabilidade pelas sanções à família Bolsonaro.
Apesar do forte impacto sobre as exportações e a indústria nacional, o governo enxergou uma possível oportunidade eleitoral: a queda dos preços internos, especialmente da carne bovina, poderia reforçar o slogan político da campanha anterior: “picanha barata na mesa do trabalhador”, agora com mais força às vésperas da eleição de 2026, e ao mesmo tempo, culpar a família Bolsonaro pelo embate, na tentativa de ganhar capital eleitoral.
Em vez de buscar um caminho de diálogo ou conciliação diplomática, o governo brasileiro optou por uma escalada nas tensões, e no último domingo (13), anunciou que apresentará, nesta terça-feira (15), um pacote de medidas de reciprocidade, com foco na taxação de produtos americanos importados pelo Brasil.
O especialista prevê que a reação do governo dos EUA não será branda. Assim como ocorreu recentemente com a China, espera-se uma retaliação ainda mais severa, com possibilidade de dobro ou triplo das tarifas sobre os produtos brasileiros.
O resultado é um novo cenário de excesso de oferta no mercado interno, especialmente de commodities como carne bovina, café, suco de laranja e aço, para os quais não há alternativas rápidas de escoamento internacional. Essa pressão deve acentuar a queda dos preços domésticos e comprometer profundamente a receita dos produtores.
No setor pecuário, a situação é especialmente crítica. O mercado do boi, que ensaiava uma recuperação no início de julho, agora enfrenta uma tempestade perfeita: alta oferta, colapso na demanda externa e riscos geopolíticos crescentes. A experiência da crise da vaca louca, em 2021, serve de alerta: a retomada das exportações pode demorar muito mais do que o esperado, agravando o cenário interno.
O especialista em mercado financeiro, Fabiano Tavares, alerta que a carne bovina é uma mercadoria perecível, de alto custo logístico e armazenamento limitado. “A interrupção abrupta da demanda externa em um momento de oferta elevada poderá gerar quedas bruscas e inesperadas nas cotações, com efeitos diretos sobre a renda do produtor, os empregos da cadeia produtiva e o equilíbrio do agronegócio nacional”, pontua o especialista.